28/03/2024

Saída de capital estrangeiro do país deixa claro que intervenção não é o caminho de se relacionar com empresas de capital aberto

Por: Míriam Leitão
Fonte: O Globo / Míriam Leitão
Num cenário de incertezas internacionais, a política intervencionista do
governo Lula em companhias abertas como a Petrobras e Vale, acentuou o
movimento de retirada de capital de investidores estrangeiros da B3 este ano.
Até o dia 22 deste mês, R$ 21,2 bilhões já tinham deixado a Bolsa brasileira,
como mostra a matéria publicada no GLOBO, assinada por João Sorima Neto,
Juliana Causin e Vinícius Neder. Bolsa sobe e cai e capital sai e volta, mas num
momento em que há muita incerteza, entre elas em relação política monetária
americana, é muito prejudicial esse tipo de decisão do governo de interferir nas
empresas, como no caso do pagamento de dividendos da Petrobras ou na
nomeação do novo CEO da Vale. Não à toa das duas empresas acumulam
perdas nas suas ações, de 4% e 19%, respectivamente.
É importante que as empresas sejam bem geridas, que estejam blindadas contra
interferência, para evitar os erros que já vimos no passado em que houve uma
forte política de intervenção se repitam. As empresas devem ter lucro, pagar
dividendos, o que no caso da Petrobras, beneficia diretamente o governo, seu
maior acionista e pode ajudar a financiar políticas públicas. Já está claro e esse
número sobre a saída de capital estrangeiro só reforça, que esse não é o melhor
caminho de se relacionar com empresas de capital aberto.
O que aconteceu na Petrobras, concretamente, é que foi decidido pelo Palácio
Planalto a não distribuição de dividendos extraordinários. Havia uma
expectativa, alimentada até pelo próprio presidente da petroleira, de que essa
distribuição aconteceria. Essa interferência levou a queda no valor da empresa,
não apenas por esse movimento, mas por medo da retomada de uma política
intervencionista que se viu outros governos do PT nas empresas estatais de
forma geral.
No caso, a Vale, que sequer é estatal, o governo tentou influenciar na escolha
do novo presidente da empresa via Previ, que é um instituto privado dos
funcionários do Banco do Brasil. O governo tem uma Golden Share da
empresa, o que já lhe dá prerrogativas, mas tentou ir além numa tentativa de
emplacar o ex-ministro Guido Mantega para o cargo de presidente. A iniciativa
repercutiu tão mal, que a acabou sendo abandonada.
É fato que não é só isso que está provocando a saída de capitais do país, mas a
interferência do governo, como mostra a matéria, já é hoje apontado como
principal risco no Brasil por agentes do mercado, acima do desequilíbrio das
contas públicas, segundo pesquisa do instituto Quaest. E a Bolsa como um todo
é muito dependente do aporte de capital estrangeiro, que respondem por 54%
do fluxo mensal.